Quando era criança, meu pai tinha um emprego numa “boa firrrrma” e lá ele ficou sócio do círculo do livro. Nem sei se isso existe ainda. E toda a semana a estante de livros da nossa casa ficava mais recheada com as novas aquisições do papai. Té que um belo dia, ele chegou com um lindo livro com a capa colorida, daquelas que chamam bem a atenção até de uma criança espivitada.
E não é que era um livro pra crianças mesmo? “Reinações de Narizinho”. Abri-o. Mas dentro parecia um livro de adulto, com pouquíssimas figuras; deixamos (minha irmã e eu) de lado. Só nos interessávamos novamente quando meu pai chegava com mais um para a coleção de 15. Aí víamos a “escadinha” com os respectivos números crescendo na estante.
Nunca os li. Nem os meus pais para mim.
Até 2005. Trabalhava numa empresa na região executiva da zona sul e ia trabalhar de ônibus fretado. Viagem de aproximadamente 30/40 minutos, com sorte. E na virada deste mencioando ano decidi ter como promessa de início de ano ler mais.
Daí notei esses 15 livros na estante de casa. Pronto!, já sabia por onde começar. Devorei-os em 10 meses. E foi uma das viagens mais incríveis que realizei na minha vida. O universo “infantil” criado por Monteiro Lobato é algo, no mínimo, genial.
Fiquei feliz por não ter lido essa coleção quando era criança, porque seria um desperdício. Não entenderia quase nada das reais mensagens incutidas nessas “historinhas de criança”. Fora as palavras não usuais no nosso vocabulário atual. Quem, hoje em dia, sabe que “reinação” significa “arte de criança”? Nunca ouvi nem minha avó falando assim.
A Emília é um caso a parte. Começou como uma simples boneca de pano da Narizinho que foi feita e remendada tantas vezes pela tia Nastácia. Criou vida, no reino das águas claras se não me engano, e daí pra deixar de falar coisas sem sentido e ser “tão sabida” as vezes mais que o próprio “marido” Visconde foi um pulo.
E é sobre ela que fiquei mais interessada enquanto estava devorando os 15 livros.
E fui saber mais sobre esse material como, autor e personagem. Em algum lugar que li, a Emília foi definida como o alter-ego de seu criador. Desbocada, sem papas na língua e agressivamente sincera, Lobato dava seus recadinhos através de uma bonequinha espertinha.
Chegando ao ponto: a tia Sula (pessoa que amo) é muito elegante. As vezes digo algo desbocadamente e ela só olha pra mim e concorda.
E você? É o alter-ego de alguém ou tem um alter-ego?